O pombo é uma ave controversa. Na cor branca é símbolo de paz, como casal representa o amor, mas pode também ser responsável por entupimento de calhas, manchas na pintura de carros e até doenças. Eles convivem com o homem sem problemas, basta esticar um pouco o olhar para achar um, ou muitos pombos em telhados, vãos, frestas e até caixas de proteção de ar condicionado. Afinal, o ambiente urbano – e Santos em especial, com a praia e os grãos que caem no cais do porto – é favorável à sua existência, com oferta abundante de alimento, espaço e abrigo que servem para o pouso e a formação de ninhos, e a quase inexistência de aves de rapina, que são seus predadores naturais.

Estudo efetuado em 1995 estimou que a população de pombos em Santos esteja entre 100 a 120 mil aves, ou seja, uma para cada quatro habitantes. Mais de uma década depois, a projeção chega a assustar, considerando que um pombo urbano vive de 4 a 6 anos e uma ave pode ter até oito filhotes por ano. Levantar essa nova situação é um dos objetivos da pesquisa iniciada este mês envolvendo estudantes da Faculdade de Biologia da Universidade Santa Cecília, sob coordenação do médico-veterinário Eduardo Filetti.

O mapeamento está sendo feito em 29 pontos da cidade, especialmente na orla da praia e na faixa portuária. Nos finais de semana, é distribuída comida para atrair os pombos e as fezes das aves são recolhidas para análise. “O principal objetivo é definir o perfil coproparasitológico do pombos, ou seja, constatar se as aves apresentam parasitas que possam oferecer riscos às pessoas. Também queremos avaliar se, desde o primeiro levantamento em 95, houve variação na população de pombo”. A pesquisa será por amostragem, utilizando a técnica de bioestatística, e deve estar concluída em dois meses, quando serão encaminhadas sugestões de controle ecológico à Prefeitura Municipal. A idéia é depois levar o trabalho para outros municípios da baixada.

Controle ecológico para evitar problemas da superpopulação

“O pombo sempre dividiu opiniões”, lembra Filetti. “Enquanto uns reclamam da sujeira, chegando até a atos de crueldade como usar visgo para prender a ave ou mesmo disparando tiros de chumbinho, outros a consideram símbolo da paz e oferecem alimento”. Além de crime previsto na Lei de Crimes Ambientais, matar pombos não é a solução, garante o veterinário. “Na Itália e outros países da Europa eles até servem de atração turística, proporcionando renda à população.”

Para Filetti, uma das soluções é adotar a receita utilizada na Itália, onde as aves recebem anticoncepcional misturado no alimento, possibilitando assim manter uma população equilibrada. “Mas é preciso utilizar com critério, pois pode acabar esterelizando outras aves”, adverte. Outra ação é conscientizar a população a não dar comida, “com exceso de alimento não há seleção natural, até as aves fracas sobrevivem”. A montagem de grandes pombais, onde as aves receberiam anticoncepcionais e vermífugo, também é uma alternativa.

Segundo o veterinário, as fezes dos pombos somente oferecem risco quando estão secas, “na verdade, quaisquer fezes em contato com matéria orgânica podem ser um meio de cultura favorável. Segundo o engenheiro químico George Balthazar, o estrago em pintura de carro que as fezes de pombos causa é devido a uma série de produtos químicos que se decompõem e formam ácidos quando as mesmas endurecem. “O sol acelera o ataque químico. Fezes de outras aves, como gaivotas, e ovos de inseto também têm estes efeito”, alerta.

Um estrangeiro adaptado

O pombo chegou ao Brasil com a família real portuguesa, mas há relatos da domesticação desses animais desde a idade do bronze. Aves classificadas no gênero Columba são mais de 50 espécies distribuídas no mundo, uma ampla variação de cor de plumagem, tamanho e hábitos. O pombo doméstico Columbia Lívia é o mais conhecido por sua proximidade no convívio com o homem. É do tipo encontrado em Santos. No ambiente urbano, eles se adaptam a qualquer estrutura arquitetônica, mesmo em superfícies reclinadas, que muitas vezes lembram seu habitat selvagem. Confirmando a fama de símbolo do amor, os pombos são monogâmicos e quando recebem alimento em abundância podem aumentar sua capacidade reprodutiva para várias posturas ao ano.

Prevenção a doenças

Embora a Ouvidoria Pública afirme não ter registro de reclamações de munícipes envolvendo pombos, o número de aves na cidade está preocupando o Serviço de Vigilância e Controle de Zoonoses (Servicoz), da Secretaria Municiapal de Saúde, que elaborou uma cartilha de prevenção a doenças transmitidas por animais, alertando sobre o perigo do acúmulo de lixo e materiais descartáveis que atraem ratos, carmujos, morcegos, pombos, baratas e outros insetos.

O setor defende uma ação conjunta com a Codesp, num projeto para a construção de um pombal, fque controlará a população desta espécie, com a troca de ovos verdadeiros por falsos. A recomendação é que a população vede frestas, buracos e forros para evitar que os pombos entrem, além de não alimenta-los nas ruas.

Segundo o médico sanitarista Tarcísio Soares Borges Filho, embora pareçam inofensivos, os pombos podem transmitir desde doenças respiratórias até toxoplasmose cerebral. “As fezes dos pombos podem causar a samonelose, provocando vômitos e gastroenterite. Isso representa um risco para os portadores de Aids, os quais, sem anticorpos, são ameaçados de contrair a neurotoxoplasmose, que é fatal”.

Veículo: Jornal da Orla
Data: Sábado 07/04/2007 e Domingo 08/04/2007
Seção: Cidade
Página(s): 7
Autor: Miriam Ribeiro