O adensamento populacional nos centros urbanos, onde as pessoas muito justamente buscam melhores empregos e condições de ascenção social, incrementa a cada dia a utilização de apartamentos como alternativa de moradia. Apartamentos cada vez menores, diga-se de passagem.

Esse fator, aliado à propaganda dos criadores de cães de porte tipo miniatura, levam à busca obsessiva por Yorkshires, Dachshunds, Pinchers, Poodles,etc.

E, como em tantos outros momentos da vida, as pessoas são manipuladas e conduzidas por uma indústria que só visa lucrar, lucrar e lucrar. Esse caso em particular é pior, porque trata-se de "fabricação de animais" e não de automóveis, sapatos, roupas, móveis, ou algo assim. Em outras palavras, as pessoas que entram num pet-shop e compram um lindo filhotinho pensando que o estão libertando daquela minúscula jaula em que eles se encontram, na verdade, estão simplesmente desocupando a mesma para a entrada do próximo coitado…

Não querendo generalizar, mas, via de regra, pela minha experiência como protetora de animais, eu digo que os criadores de cães de raça pura comportam-se como simples comerciantes, tratando as suas matrizes como meros objetos (os animais são mantidos em jaulas, sem passearem, sem tomarem sol, sem o convívio com humanos). Quando os animais ficam velhos e deixam de procriar são simplesmente sacrificados ou doados para qualquer vagabundo, sem a menor preocupação em pesquisar as condições do adotante, tal a pressa em se desfazer do pobre animal que o sustentou durante tanto tempo!

Portanto, quero registrar aqui algumas verdades acerca de todo esse imbróglio. Em primeiro lugar, tamanho não é documento. Logicamente, ninguém vai ter um São Bernardo dentro de uma kitinete!!! Mas os lindos SRD de porte pequeno a médio, cães de aproximadamente 40 cm de comprimento e com mais ou menos 7 Kg de peso, são animais perfeitamente adaptáveis a espaços pequenos, desde que tenham temperamento calmo. Aliás, a questão do temperamento é mais relevante do que a do tamanho. Uma vez entrou em minha casa uma Pinscher que "botou a casa abaixo", em certo momento ela furou a parede e escapou… Sua rapidez e inquietação dariam um filme mais emocionante do que "Fuga de Alcatraz"…

Outra importante questão a ser considerada é que os cães de raça pura são mais vulneráveis a doenças geneticamente transmissíveis, uma vez que o material genético não se renova. Sabe-se que alguns criadores fazem cruzamentos inter-familiares, o que agrava o problema.

E, por último, ao comprar um animal de estimação está-se incentivando o comércio de animais, como no passado ocorria com a compra de escravos. Ao adotar um animal, ao contrário, a pessoa está resgatando uma vida que se encontrava em risco, além de contribuir para o fim desse negócio infame, semelhante ao tráfico de escravos humanos que tínhamos até a pouco mais de século atrás!

Luzia Ilza Ferreira Jorge – RG: 8.003.884
Profissão: Pesquisador-científico IV do Instituto Adolfo Lutz de Santos