Eduardo Ribeiro Filetti é médico veterinário, professor da Universidade Santa Cecília, mestre em Saúde Pública e pós-graduado em clínica de felinos, e especialista em clínica médica e cirurgia de pequenos animais

Quase todos os dias, chego cedo no trabalho para cuidar dos animais internados e iniciar as cirurgias. Sempre gostei de acordar cedo, pois acredito que os desafios diários ficam mais fáceis de serem resolvidos. Semana passada, após os trabalhos iniciais, fui tomar um rápido café na padaria. Lá conheci uma senhora apaixonada por animais. Ela está com medo da tal varíola dos macacos, pois têm um sítio onde vários saguis vivem livremente. Em conversa rápida, aconselhei a não se preocupar com este lindos pequenos primatas.

O medo tem algum fundamento, pois já existem alguns casos diagnosticados em nosso país. A varíola dos macacos, assim como a varíola, é um ortopoxvírus. Apesar do nome, os primatas não são os reservatórios do vírus da varíola. Embora o reservatório seja desconhecido, existem pesquisas que indicam que os pequenos roedores, como esquilos que vivem nas florestas tropicais da África, são os maiores suspeitos.

A doença teve origem na África, e ocorre em humanos esporadicamente e em epidemias ocasionais. A doença é transmitida de animais através de secreções fisiológicas, como gotículas de saliva ou respiratórias e contato com feridas. Já a transmissão entre humanos ocorre principalmente por via respiratória.

Os sintomas da varíola do macaco são semelhantes ao da varíola, porém as lesões cutâneas costumam ser mais frequentes na varíola do macaco. A aumento de gânglios ocorre na maioria dos casos e podemos ter infecções pulmonares. Febre e dores musculares também são sintomas desta virose.

A doença é considerada um zoonose (o vírus é transmitido aos seres humanos a partir de animais) e seu período de incubação é aproximadamente de seis a 13 dias, mas pode chegar até 21 dias, segundo pesquisas.

Várias espécies de animais foram identificadas com suscetíveis ao vírus da varíola dos macacos. Mas, como falamos anteriormente, permanece incerta a história natural do vírus. Os possíveis reservatórios e como a sua circulação é mantida na natureza. A ingestão de carnes e outros produtos de origem animal mal cozidas de animais infectados podem ser um possível fator de risco.

A descoberta deste vírus aconteceu em um laboratório dinamarquês em 1958. O primeiro caso em humanos ocorreu no Congo em 1970. Existem duas linhagens deste vírus, o da África Ocidental e da Bacia do Congo.

A varíola dos macacos é considerada endêmica nos seguintes países: Benin, Camarões, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Gabão, Gana, Costa do Marfim, Libéria, Nigéria, República do Congo, Serra Leoa e Sudão do Sul. Nesses países existiram casos mais graves, pois muitos pacientes chegavam desnutridos e com diagnóstico tardio.

O tratamento é aumentar a resistência do indivíduo e restabelecer a saúde. A maioria dos casos evolui para a cura.

No início dos anos 2000, houve um surto nos Estados Unidos onde o óbito foi zero. Esse episódio mostra que, com uma assistência adequada, diagnóstico precoce e tratamento correto, a doença é combatida sem risos à vida. Crianças geralmente causam mais preocupações quando acometidas. Gestantes podem sofrer abortos e ter sintomas mais graves.

A prevenção se faz no uso de máscaras e lavagem correta das mãos. Álcool gel dever ser utilizado. Evitar carnes de animais silvestres e mal passadas.

As vacinas contra a varíola comum já se mostraram eficazes contra a varíola dos macacos.