A morte de Manchinha, cão assassinado por um segurança do supermercado Carrefour em Osasco chocou o país nessa semana. Como alguém pode cruelmente matar um animal pensando em interesses comerciais. A revolta tomou conta das ruas, das ongs de defesa da vida animal, da imprensa e das redes sociais. É o momento para refletirmos sobre as mudanças da sociedade.
Há algumas décadas, quem acreditaria que estivéssemos celebrando casamentos entre pessoas do mesmo sexo e esses casais frequentariam livremente ambientes comuns exibindo o amor e o laço afetivo que os une? Meu amigo,
advogado Vasco Vieira, sempre me diz que daqui poucos anos os animais de estimação, em especial cães e gatos, estarão comendo à mesa como membro das famílias, pois o laço afetivo que une esses animais às pessoas muitas vezes transcende até mesmo o elo consanguíneo da mesma espécie, ou seja pode ser até mais forte que o laço familiar.
Esse amor, carinho e respeito é conquistado na relação. Nessa semana, o mundo teve prova disso ao se encantar com Sully, o labrador do ex-presidente norte-americano George Bush que fez questão de zelar o caixão do presidente
durante o seu velório. Lealdade que muitos humanos não possuem. Respeito que muitos humanos não expressam.
Afinal, os cães e gatos podem existir e ter seus direitos respeitados? É óbvio que sim! A lei diz que é dever do Estado proteger os animais, tanto que o Ministério Público estadual está investigando o falecimento de Manchinha e com certeza punirá os culpados.
Precisamos aproveitar esses momentos e fazermos a discussão que nos cabe.
Devemos tratar os cachorros com amor e amizade como eles nos tratam? Claro que sim.
É natural o conceito de cachorro comunitário. Alguns comércios possuem seus animais dentro das lojas. Algumas comunidades têm seus cachorros circulando livremente, como Robinho, adotado pelos taxistas e comerciantes da
confluência do Canal 1 com a Floriano Peixoto. Os animais, em especiais os cães, podem trabalhar e coexistir com os humanos com respeito. Deve ser benéfico para todas as partes. Os cães comunitários devem existir e podem
colaborar inclusive com a segurança de ruas e lojas onde conhecedor da vizinhança e com o devido treinamento, eles podem colaborar e muito na intimidação da ação de marginais, por exemplo. Cabe aos legisladores produzirem leis nesse sentido.
Cão precisa de apoio. Em 1987, com estudantes da Faculdade de Engenharia da Universidade Santa Cecília desenvolvemos a primeira cadeira de rodas para cães. A inclusão e o respeito são o melhor caminho.
Nesse sentido, cabe elogiar um Posto Shell de São Paulo que contratou o vira-lata Negão para trabalhar, recebendo salário e moradia, com uniforme e crachá. Há notícias de empresas em Manaus que contratam cães para atuar na
segurança dando inclusive direito a férias aos mesmos. Isso é inclusão e respeito aos animais.
Ao Carrefour, aconselho construir uma estátua de Manchinha em todas as suas unidades e permitir desde já a circulação de animais em suas lojas e até obrigando as unidades a possuírem no quadro de colaboradores um pet. Claro que nenhuma dessas ações substituem a vida de Manchinha. Ela é insubstituível. Mas, é a maneira de transformarmos essa mancha da falta de respeito humana em um aprendizado eterno a comerciantes, pessoas e animais.
Respeito é tudo. Essa Manchinha será indelével em nossa memória e de todos aqueles que se dizem humanos.
—
Eduardo Ribeiro Filetti – Médico Veterinário, Professor Universitário, Pós
Graduado em Saúde Pública pela Unifesp