Sua cor não é das mais definidas, mas até que isso lhe dá um charme especial entre as garotas. Seu bigode é aparado com cuidado, as unhas estão sempre bem cortadas e tem muitos amigos pela vizinhança, que frequenta em seus longos passeios vespertinos. Aos quatro meses de idade foi arrancado das ruas, sarnento e faminto, e levado a uma creche para ser adotado. Hoje, já adulto aos dois anos de idade, este bem tratado exemplar de puro vira-lata, além de casa, comida e carinho, ganhou até nome grã-fino: Charles. Ele é um dos muitos cachorros que, antes de serem adotados, passaram por uma “Febem canina”, em Santos, no Litoral Paulista, pioneira creche para animais carentes. Foi um custo tentar convencer a mãe que não se tratava de nenhum plano maquiavélico para enlouquecê-la o que, aliás. as crianças sabem fazer muito bem. A verdade é que Eduardo encontrou seu primeiro vira-latas quando tinha dois anos de idade (ele, não o cachorro) e quis leválo para casa. “Quimbamba” foi por assim dizer seu primeiro amor canino. “Depois disso vieram aranhas. gatos, cobras, lembra dona Guadelupe, 58 anos, também mãe de Celso, outro contaminado pelo vírus animal. Eduardo (29 anos) e Celso (27 anos), claro, são veterinários,Em Santos mantêm, há seis anos, uma creche para animais carentes nos fundos da clinica veterinária. que funciona 12 horas por dia e noite. nos fins de semana, em esquema de plantão para emergências, na R. Almirante Tamandare 273, Macuco (tel: 0132-38-8925). Mamãe Guadelupe também entrou no embalo: professora aposentada, além de ajudar os filhos na clinica com as 21 salas sempre cheias,diga-se de passagem é, a responsável pela reintegração dos abandonados e pela butique de produtos animais. a Boticão, que funciona numa casa ao lado da clinica. PRÓTESES ESPECIAIS A Clínica Filetti é uma das mais bem aparelhadas da região. Faz pequenas e grandes cirurgias computadorizadas em animais, fabrica pinos, placas e fios de aço obedecendo às necessidades de cada animal. Eduardo Filetti explica que as próteses – feitas com liga metálica de cromo, aço e níquel eram feitas para seres humanos e tinham de ser adaptadas nos animais. Além de inadequadas (o tamanho e o formato das próteses humanas geralmente não correspondiam às necessidades anatômicas dos bichos), custavam muito. Isso fazia o dono do animal desistir. Desistência que muitas vezes, significava uma perna cortada ou até a morte. Histórias existem, e muitas. Que começam tristes e quase sempre têm final feliz. Certa vez um pino foi colocado na perna de um sagui, incomum bichinho de estimação de Uma criança, que teve a infeliz ideia de pendurar-se numa porta justo na hora em que bateu um vento forte. O atordoado sagui teve uma perna esmagada e despencou lá de cima, com a perna pendurada. Outro que hoje vive feliz da vida com seu pino de estimação é um albatroz que num voo mais ousado,deu de perna com o mastro de um veleiro Há caso de uma cachorrinha que ficou paralítica. O dono, desesperado não mediu esforços: os irmão Filetti fabricaram uma cadeira de rodas pra ela. Uma cruel e malvada brincadeira infantil quase acaba com a vida de uma pobre pombinha, que teve suas patas cimentadas e foi salva graças a uma delicada cirurgia. E uma tartaruga que teve uma pata devorada por um rato, salvou-se graças as mãos habilidosas dos cirurgiões. Uma calopsita fêmea (parecia com um periquito) precisou ser operada de um tumor no olho direito. Só que não ficava sem o “marido”. O jeito foi internar os dois para que a paciente tivesse excelente recuperação. Aparelhos ortodônticos também fazem parte do atendimento. Pinos, pivôs fixos e aparelhos para corrigir a mastigação cruzada são alguns exemplos Até uma jiboia com gengivite baixou na Clínica. Celso fez um estágio com um engenheiro especializado em fabricar este tipo de acessório (para seres humanos) num hospital carioca. Desta forma, os animais têm próteses adaptadas ao seu tamanho e ãs suas necessidades. CRECHE PARA CARENTES Eduardo é árduo defensor dos bichinhos. Atende cerca de 80 animais por dia em sua clínica (cerca de 70% de cães, 20% de gatos e 10% entre aves e pássaros e outros animais). Em seis anos de funcionamento já receberam 2.520 animais para posterior doação (em geral são cães, gatos, jabutis, pássaros), Ao chegar à creche passam por exames clínicos, ultrassonografias, eletrocardiograma, tratamento dentário, banhos medicinais, radiografias. Os moradores de Santos já conhecem a clínica; talvez por isso é que os animais capturados pelo serviço público da cidade sejam sempre em número menor que aqueles apanhados pela população e levados a creche. Eduardo chegou a encaminhar um projeto de Lei à Câmara dos Vereadores propondo várias mudanças no atual sistema de captura de animais nas ruas, como separação entre sadios e doentes, nos canis, e horários de visitação para que famílias interessadas possam conhecer seu futuros animaizinhos de estimação. O animal encontrado nas ruas e levado para Creche, depois de tratado, é doado para que se interessar. Mais Eduardo – que é professor de Fisiologia Médica na Universidade Santa Cecilia dos Bandeirantes, em Santos – e Celso só o entregam se o futuro dono prometer tratar muito bem dele. Apaixonado por animas, Celso garante que cuidar de um bicho é a melhor maneira de dar responsabilidade às crianças e ensinálas a amar a Natureza. BÉLGICA : EXEMPLO O amor aos animais é levado muito à sério na Bélgica. Para se ter uma ideia, há uma lei que estipula, em caso de divórcio, que o cão tem direito de ver seus dois donos com a mesma frequência. Se não se chega a um acordo sobre quem fica com o animal o juiz é quem decide: opta por quem tem a casa maior, os melhores meios financeiros e mais. tempo para dedicar ao bichinho. Na França uma lei proíbe que se use cachorros para inspirar piedade. Isso significa que nenhum mendigo pode ficar com um cãozinho do lado. de olhar triste, pedindo esmolas. No Rio de Janeiro como se não bastassem os hotéis, spas e butiques. já existem clínicas fazendo planos de saúde para totós & cia. Assim como os convencionais os planos de saúde veterinária envolvem carências. consultas, cirurgias, tratamentos etc. INOFENSIVOS, MAS NEM TANTO I Animais de estimação servem de companhia e ajudam no desenvolvimento psicológico de crianças e adultos. Dizem os especialistas que é muito provável que pessoas tristes, solitárias ou amarguradas melhorem seu humor cotidiano e sua qualidade de vida simplesmente convivendo com um bichinho de estimação. Clóvis F, Constantino José Hugo de L. Pessoa Eraldo S. Fiori A maioria das crianças fica fascinada ao conviver com animais porque vê neles ao mesmo tempo, um brinquedo e um companheiro. É importante realçar que, ao longo da convivência, a criança desenvolve forte sentimento de respeito e valorização da existência. Contudo, para que um bicho de estimação represente um fato positivo na vida da criança, alguns cuidados devem ser observados: A saúde dele deve ser periódica e rotineiramente avaliada por um veterinário. Isto é necessário porque várias doenças podem ser transmitidas pelos animais O controle de da saúde e higiene deles é obrigação dos pais e não da criança; convém deixar claro que o próprio ser humano, sem cuidados médicos ou de higiene também transmite doenças. Crianças alérgicas devem evitar animais com pelos, que são uma mina de ácaros (os ácaros, por sua vez, ao entrarem na árvore respiratória, provocam reações alérgicas como a bronquite ou tosse. Na pele podem produzir os chamados estrófolus, que são “bolinhas” róseas, semelhantes a picadas de pulga). Nestes casos, ao invés de cachorro ou gato, os companheiros podem muito bem ser peixinhos ou tartarugas. Devemos lembrar aos pais que doenças como toxoplasmose. toxocaríase, ectoparasitas (sarnas e micoses) e outras verminoses podem ser transmitidas por gatos e cães. Algumas vezes até acontece que o animal não apresente manifestações da doença. Os gatos são, por. exemplo, transmissores da toxoplasmose e da “doença de arranhadura de gato”. A raiva (doença fatal) pode ser transmitida pelo cão. macaco ou gato doentes. Não devemos nos esquecer que a vacina é fundamental. E todas as vezes em que a criança for mordida por um desses animais deve-se procurar um médico. A administração precoce do soro e da vacina evita a doença. Com frequência, os veterinários recomendam que sejam feitos regularmente (ou, pelo menos, uma ou duas vezes por ano) exames parasitológicos das fezes do animal adulto. Se ele costuma ir à rua ou visitar sítio ou fazenda é recomendável, segundo estes profissionais, o uso de vermífugos uma ou duas vezes por ano, independente de exames. Um cuidado fundamental que a criança precisa aprender bem é evitar contato com as fezes e saliva dos animais. Neste e em outros aspectos, lavar as mãos após brincar com os bichos é indispensável. Ao comprar um animal doméstico é bom certificar-se da origem exata. evitando-se levar para casa animais da rua ou cedidos por não pode comprovar sua origem. Animais silvestres não devem ser comprados inclusive por impedimento legal do seu cativeiro.