Participante de congressos e palestras por todo o Brasil e o mundo, esse veterinário especial já tratou gratuitamente mais de 4 mil animais em sua clínica, localizada na Baixada Santista. O Portal Mara Gabrilli conversou com o Drº Filetti, que entre outras curiosidades, nos contou que até jacaré fraturado já passou por seu consultório. Confira esse bate-papo animal.

Ele tem 5 cães, 3 gatos,  algumas  tartarugas e vários peixes. Por aí já dá para perceber o quanto ele gosta de bichos. Formado em Medicina Veterinária desde 1986 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro com especialização em clínica de animais de pequeno porte, Eduardo Filetti, autor dos livros O mundo fascinante dos felinos e Medicina Veterinária é responsável pela criação de aparelhos úteis para animais com deficiência, como a cadeira de rodas para cachorros.

Portal Mara Gabrili: Quando  e como surgiu a ideia de fazer uma cadeira de rodas para cachorros?
Drº Eduardo Filetti: Em medicina veterinária, assim como na humana, alguns animais sofrem de problemas osteoarticulares e quando graves podem ficar sem os movimentos dos membros posteriores. Sem contar os inúmeros casos de acidentes, como os atropelamentos. Pensando nisto, em 1987, em conjunto com o Departamento de engenharia desenvolvemos a cadeira de rodas para facilitar a vida dos queridos pets

PMG: Há uma raça de cachorro específica acometida por deficiências?
Filetti: A raça de cachorro mais acometida por deficiências é o Dachshund [o popular salsicha] por ser um cão cumprido. Desde filhote avisamos que temos que dar uma ração bem balanceada e submeter o pet a exercícios moderados para não deixá-lo engordar.Damos também muito enfoque para o cliente evitar escadas e brincadeiras de pular com esta raça para que não haja o desgaste exagerado dos discos intervertebrais.

PMG: Quais os tipos de deficiência que um animal pode ter? E quais são as causas?
Filetti: A maior parte das deficiências são problemas ocasionados por acidentes. Temos também os problemas genéticos e hereditários atacando nossos pets. Em algumas raças como os bassets, dashchund que são cumpridos há muita propensão a ter problemas cervicais e lombares.

PMG: Que tipo de tratamento existe para cachorros que possuem uma deficiência? Há um tratamento específico para cada um?
Filetti: Geralmente tentamos tratá-los com muito carinho e amor. Após exames radiológicos, onde detectamos a patologia (problema cervical, espondiloartroses etc) escolhemos as diversas formas de tratamento que vão desde aplicações de vitamina b12 com antiflamatórios, gelo, compressas, luz, massagens e até acupuntura. Se não tiver jeito (ex: fratura de coluna lombar com ruptura de medula) indicamos a cadeira de rodas para aumentar a qualidade de vida do pet. Eles se adaptam muito bem e continuam sendo ativos e felizes. Este é o maior pagamento que um médico pode receber…Ver um paciente curado ou recuperado.

PMG: Qual a principal procura dos donos de animais na sua clínica?
Filetti: Graças a Deus temos bom movimento, estamos trabalhando há 23 anos sem parar um dia. Inclusive em internações e na UTI. Somos muito procurados para tratamentos dermatológicos, cirurgias desde as mais comuns até ósseas e oculares. Fazemos cirurgia em animais com catarata.Temos hotelaria em local separado da nossa internação.

PMG: Isso é um sinal que há muitos animais com deficiência… Há um estudo sobre isso aqui no Brasil?
Filetti: Tentei fazer um levantamento de quantos animais têm deficiência.  Quando fizemos a cadeira de rodas, não cheguei a números reais, mas posso garantir que existem vários casos no Brasil e no mundo. Já mandei cadeiras de rodas até para a Austrália, o dono me passava as medidas do pet por e-mail e fomos montando a cadeira.

PMG: Por falar nisso, como é a acessibilidade em sua clínica?
Filetti: A acessibilidade da nossa clínica é boa temos piso adequado e rampas para deficientes.Queremos tratar bem todas as pessoas.Todos somos filhos de Deus.

PMG: E essa historia dos jacarés fraturados…Conta para gente como foi isso.
Filetti: Foi a coisa mais curiosa que aconteceu em minha clínica…Atendi esses jacarés do Parque da Anilinhas de Cubatão. E cuidar de um jacaré com fraturas não é fácil. Mas ele ficou bom…Tivemos que improvisar uma tala resistente à água para ele…

PMG: Podemos considerar este fato o mais desafiador na sua carreira?
Filetti: No começo da minha trajetória profissional, atendi animais de um circo que pegou fogo. Fiquei uma semana dentro de minha empresa cuidando dos pets.  Não atendi a imprensa até estarem todos fora de perigo.Foi uma grande experiência para um início de carreira. A vida é um grande aprendizado e apesar de estar tratando de animais desde os meus 14 anos de idade, mantenho o gosto do aprendizado constante. Acho que as pessoas devem escolher a profissão por vocação, pois fica bem mais fácil.