FORTALEZA – Tratamento para fertilidade de casais de camarões, com facilidade de berçário e material, ultra-som para acompanhar gestação de vacas e tratamento dentário para éguas e cadelas foram temas da sessão da SBPC ontem mostrando que a espécie humana já está estendendo os benefícios do seu conhecimento aos coabitantes terrestres do reino animal. “Temos de dar as melhores condições para os bichinhos senão eles ficam estressados”, disse o biólogo Sergio Luís de Siqueira Bueno, do Instituo de Biociências da USP, que mostrou uma maternidade para aumentar a taxa de fertilidade do camarão branco em uma empresa baiana. São 36 tanques revestidos de lona plástica com circulação de água direta do mar, filtrada em areia, que abrigam, cada um deles 40 casais de camarão. As camaroas têm alojamentos individuais onde botam os ovos: 79 mil deles, em média de cativeiro. Preocupados também com a gestação no reino animal, Antonio Pereira de Novaes e sua equipe da Embrapa de São Carlos testaram a eficiência de ultra-sons contínuos em 53 éguas e 25 vacas para acompanhar a evolução dos fetos. FIO DENTAL A apresentação mais polêmica foi a dos irmãos Eduardo e Celso Ribeiro Filetti, veterinários da Universidade Santa Cecília dos Bandeirantes, no interior de São Paulo. Eles relataram vários casos de colocação de próteses dentárias em éguas e cadelas. “Do ponto de vista estético a arcada ficou bonita e perfeita”, gaba-se Eduardo, explicando detalhadamente como tratou os canais e implantou uma prótese de durcast (produto parecido com outro mas de custo bem mais baixo), numa feroz cadela doberman. A cadela tinha quebrado justamente os dois caninos que lhe conferem a ferocidade própria da raça. “Ficou perfeito. Ela depois até mordeu uma faxineira que levou 12 pontos”, diz Eduardo. A prótese também foi implantada numa égua muito cara do Jóquei Clube, que tinha a mania de morder a baia. Dentistas presentes à sessão ensaiaram um protesto pelo fato de o veterinário estar tratando de dentes, mas ao final acabaram elogiando o trabalho de Eduardo Filetti. É importante para os animais de reprodução, pois a dor de dente atrapalha a monta, como ocorre com o homem, que nessa situação não quer saber de nada mais a não ser ir para o dentista”, disse um deles na platéia. Uma dentista disse que a princípio achou curioso que alguém se preocupasse com prótese de animais “num país de desdentados com é o Brasil”, mas também acabou elogiando a beleza do trabalho, ilustrado por slides coloridos. Ela fez uma recomendação para que Eduardo separasse mais o espaço entre as próteses de modo a facilitar a passagem de fio dental nos animais – especialmente os cavalos de corrida, que regularmente recebem esse tratamento no jóquei. “Esse tratamento não é para qualquer pangaré”, admitiu Filetti, “mas sim para animais caros, que às vezes tem condições de vida melhores que as nossas”. Ele revelou o segredo da mina, ao final: “Conheço uma dentista veterinária em São Paulo que já faturou horrores só cuidando de dentes de animais de estimação”. Publicação: O Estado de S. Paulo – 15/07/1999