A Tribuna Terça-feira, 15 de novembro de 2005 B-8 Social Luiz Alca de Sant Anna
Celso e Deni Filetti, um belo casal em tempo romântico total

Quando alguém me diz que gosta de poesia ou se intitula “poeta”, o que é hoje muito comum, pergunto logo se já leu “Cartas a um jovem Poeta”, desse imenso tcheco Rainer Maria Rilke, um dos mais importantes na língua alemã. Infelizmente, a maioria o desconhece e perde uma maravilha dentro da poesia. Rilke dizia que “a vida agarra-se ao difícil” e ao lê-lo, ainda jovem, superinseguro e acomodado, isso me valeu muito. Foi um das causas da mudança radical. Não há dúvida de que o difícil, não necessariamente ligado a dificuldades materiais ou circunstanciais, mas à complexidade do acesso é muito mais atraente e traz aquele estímulo do desafio que não deixa a gente desistir e dá um gostinho de pequena vitória a cada passo, mesmo que o retrocesso se faça de vez em quando. E é tão bom, hoje, olhando para a extensão da biografia e não, olhando par trás como afirmam muitos e que acho superbaixo astral, ver que aquilo que a gente considerava o mais difícil, acabou sendo conquistado e nem era tão difícil assim. Ou pelo menos, antes colocado no rol das impossibilidades e que acabavam formando julgamento sobre nós próprios, tornou-se a negação da impotência e a luz de um esclarecimento sobre a personalidade e a potência. Exemplo: sempre me achei absolutamente incompetente para me gerir financeiramente, para lidar com dinheiro e ponto principal: conseguir segurar a barra de ter pessoas dependendo de mim para sobreviver. Mas me atraía por esse difícil, não pela ganância material e sim, pela conquista em si. Diante de certas cenas, quando vejo que emprego pessoas, que consegui abrir um leque de opções para elas e que, com o meu trabalho e só com ele, posso dar conforto a quem amo, suprir-lhes necessidades e docemente realizar alguns desejos, sinto-me muito bem. Entre tantas outras coisas. Eis porque os que tem tudo de maneira fácil, os que não precisam lutar, batalhar, dar o sangue, não valorizam muitas vezes o cotidiano, o dia-dia, um fato isolado. A isso os franceses chamam de “blasé”. Como é bom o brilho de se ter conseguido pela atração que esse difícil nos causa, quando nos despertamos para topar paradas que julgamos quase impossíveis. No final, no frigir dos ovos, talvez seja uma das melhores coisas.