Tudo que é demais não é bom. Incluindo os pombos. Presença cada vez mais visível ­ e incômoda ­ em vários pontos da Cidade, essa ave da classe dos columbiformes nem sempre pratica a paz de que é símbolo. Baseado em um estudo de 2008, o veterinário Eduardo Filetti calcula a população atual de pombos em cerca de 200 mil.
Quase metade da quantidade de habitantes de Santos, que somou 407 mil, segundo Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Uma fêmea tem uma média de 70 filhotes por cruzamento. Isso, misturado com alimento abundante e falta de predadores, faz com que os pombos estejam aumentando em progressão geométrica”,alerta. Uma boa parte dos 200 mil pombos de Santos certamente está a loja dana altura do número 181 da Rua Martim Afonso, no Centro. No endereço, há uma espécie de galpão, que à primeira vista parece abandonado. Mas só à primeira vista.
Logo em frente ao imóvel, os sinais inequívocos de habitação: a calçada, atolada pelas fezes de pombos ,praticamente sumiu.Apurando-se o ouvido ,distinguem-se os gorjeios vindos de dentro. E observando melhor, lá estão as janelas basculantes abertas, em cima do portão cerrado, por onde os pombos entram e saem à vontade. “Eles andam o dia inteiro por aí. Quando esquenta, é ruim por causa do cheiro”, comenta o impressor João Mendes, da gráfica que funciona a o lado.
“Outro dia tinha um pombo embaixo da mesa”, acrescentou a auxiliar de secretaria, Samir e Castro, da mesma gráfica. “Tive que ficar espantando”. Invasão de domicílio é caso de polícia. Por coincidência, a lateral do Palácio da Polícia é em frente à gráfica. Mas eles nunca pensaram em chamar as autoridades para espantar os pombos. Ao contrário. A secretária Ana Maria Freitas até simpatiza com eles ­ apesar do trabalho que tem lavando a calçada em frente à gráfica. “Acho bonitinho. De vez em quando, eles ficam aí namorando”.
Equilíbrio
Amor e ódio. Essa é a tônica da relação entre homens e pombos. “Os pombos têm toda aquela coisa de serem o símbolo da paz. Mas, também, podem transmitir doenças”, pondera o veterinário Celso Filetti. Por si só, os pombos não são nocivos. O problema começa com a proliferação desenfreada. Nesse sentido, equilíbrio é a palavra-chave. “Não podemos esquecer que o pombo compete pelos mesmos grãos com o rato. Se acabarmos com eles, a população de ratos aumenta”.
O controle populacional passa pela alimentação.Nesse sentido, dar comida aos pombos, desenfreadamente, e em lugares inadequados, como muitas pessoas costumam fazer, estimula a proliferação. “Não posso dizer que isso é errado,das pessoas que gostam de alimentar os pombos. Errado é o poder público não baixar uma norma obrigando os caminhões a lavarem os pneus antes de sair do Porto”, analisa Eduardo Filetti, irmão de Celso, e também veterinário.
O Porto, aliás, justamente pela facilidade de alimentação, é considerado um manancial de pombos. De lá eles se espalham pela Cidade. Para o controle, os irmãos Filetti preconizam a criação de pombais em locais específicos da Cidade, com alimentação própria e anticoncepcionais, quando necessário, para manter os níveis populacionais. “Os pombos podem ser usados no Turismo, como acontece em praças de várias cidades da Europa, em que você até compra o alimento”.

Principais doenças transmitidas pelos pombos:

Criptococose
É transmitida pela inalação da poeira contendo fezes secas de pombos e canários. Compromete o pulmão e pode afetar o sistema nervoso central

Histoplasmose
Transmitida pela inalação do esporo de um fungo encontrado em fezes secas de pombos e morcegos. Causa uma micose profunda

Salmonelose
Causada pela ingestão de ovos ou carne contaminados pela bactéria Salmonella sp presente nas fezes de pombos e outros animais. Gera uma toxinfecção alimentar

Ornitose
Também conhecida como psitacose, é transmitida por via oral, por meio da poeira contendo as fezes secas de aves (pombo, arara, papagaio,peru) infectadas

Dermatites
Parasitose causada pelo piolho do pombo, provoca erupções na pele

Alergias
Ocasionadas pela inalação de penugens de pombos ou de um ar rico em poeira das fezes dos pombos.

O que fazer?
Matar animais é contra a lei. Como, então, se livrar de uma eventual infestação de pombos em casa? O chefe da Seção de Vigilância e Controle de Zoonoses, Laerte Carvalho Gonçalves de Souza, dá as dicas. “Primeiro, identificar o local por onde entram e colocar telas de proteção. Nos beirais, mantê-los inclinados, com um fio de náilon amarrado emtoda a volta, para impedi-losde pousar”.
Ele lembra que os pombos só se instalam onde há alimento fácil. Identificar as possíveis fontes de comida e cortá-las também é fundamental. Já na hora de limpar as fezes dos pombos, há de se ter um cuidado especial. “Deve-se umedecê-las com água e cloro. Nunca varrê-las secas, para evitar alguma contaminação”